quarta-feira, 22 de setembro de 2010

calçada

Esfregou, enxovalhou, partiu em mil pedaçinhos e se foi... pelo piso oco e seco. Tudo num só golpe, naco aberto como vagina bangela. Vontade de nada... só deglutir o vazio chão naquela tarde plena de maresia e calor. E assim fez... calçou o pé no sapato esquecido, caminhou em silêncio gregoriano e verteu água benta nos olhos. Era preciso zerar tudo. Perdoou feridas, deixou o rastro se perder de vez e ganhou calçada. Primeiro andou segurando o corpo, tão atrapalhado quanto o fogo da primeira vez. Aguardou o encontro com pulsos aos pulos... depois sentou no umbral e cerrou as pestanas num sorriso. Sim, estava feito.

Valéria Motta

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Capital

O mesmo sentimento.
A mesma estória.

A mesma palavra
dita na mesma hora

A mesma única canção
dos carinhos mesmo vazios
dos sentidos perdidos
que mesmo entre travesseiros mesmos
ainda são correspondidos...

A mesma sensação
com a mesma intenção
sem ao menos perceber a traição
dos lençois vazios.

Na sempre procura dos teus beijos
eu tiro mesmo, o resto do vermelho
dos seus lábios pintados com esmero
e espero.

O borrar por completo das cores
Fultigadas
Derrotadas
Na pele manchada.

Te abraço
me desmancho inteira
e percebo o erro
de nunca ter amado.