sexta-feira, 30 de julho de 2010

O que seria da criação sem um bom bate bola? - Dani D. e Victor 18 -

"Stand up":O que pode dar errado num Voo da British Airways? - Dani D. -

- Eu morei em Londres um tempo, e aí sempre que sobrava uma grana eu vinha passar o natal com a família. Era bom, eu gostava de vir passar o fim do ano aqui, Rio de Janeiro, solzão, festa em família... tudo muito animado. Em Londres eu ficava muito só. Então quando eu chegava aqui, meio que acontecia de tudo... e aí eu lembrava porque eu preferia continuar a uma distancia segura da minha família. Numa dessas voltas pra casa, Eu estava realmente ansioso pela volta, no Rio fazia um calor insuportável, eu já tava ficando sem dinheiro. As brigas típicas que acontecem todo fim de ano já tinham rolado. Então eu estava especialmente feliz em sair do calor, da família, das brigas e voltar para a tranqüilidade da minha vivência internacional. Pra variar a família toda foi se despedir de mim no aeroporto. Aquela coisa toda, aquela choradeira da minha mãe. E na minha cabeça eu só conseguia ouvir: Espera, depois que você ultrapassar aquela porta, vai ser só ar condicionado, frio e silêncio. Tudo que eu mais queria naquele momento era frio e silencio e aí tudo seria perfeito, depois que eu entrasse naquele avião da British Airways, tudo seria perfeito. Afinal o que poderia dar errado num voo da British Airways.
Ainda faltava cerca de trinta minutos para o embarque, mais eu falei que era melhor eu entrar logo, sabe como são os britânicos, né mãe? Fui o primeiro a entrar no avião. Avião limpo, comissários educados, piloto que inspira confiança. Alcancei minha confortável poltrona, que ficava no meio da fileira, sabe? Quando você vai escolher onde sentar e aí tem a poltrona “janela”, tem a poltrona “corredor” e tem a “confortável” poltrona do meio. Sentei ali comecei a repetir sem parar: ninguém senta aqui, ninguém senta aqui, ninguém senta aqui. E aí apareceu o primeiro intruso, tive que levantar pra ele sentar, classe econômica, né? Mais tudo bem, estava tudo bem, o ar condicionado estava geladinho. O avião começou a encher. Mesmo sem meu comando meu cérebro começou a repetir como se fosse um mantra: ninguém senta aqui, ninguém senta aqui, ninguém senta aqui. E aí as comissárias começaram a fazer as explicações de segurança, aí eu relaxei totalmente. Agora ninguém ia entrar mais, levantei o braço da poltrona, botei umas revistas na poltrona do lado que agora também era minha, me espalhei completamente. Feche os olhos e relaxei, já estava até sonhando, quando de dentro dos meus sonhos ouvi um: com licença. Abri os olhos e diante de mim estava o dono da poltrona corredor. Fiquei pensando: esse cara tava onde? saiu de onde? porque só veio sentar agora? Recolhi minhas coisas e achei melhor me apresentar, porque mesmo sendo um avião da British Airways, o vôo era de doze horas. Me apresentei pro cara da janela, não entendi muito bem o que ele disse, só sei que ele virou e fechou os olhos, acho que não queria conversar. Virei pro outro e me apresentei.
Ele falou o nome dele e disse que era o piloto do avião. Eu disse ahh... piloto de avião, ele não, não, piloto desse avião. Eu olhei pra ele e falei: Ah ta certo, então me leva lá na cabine. Não rolou de ir na cabine, mais a tripulação toda vinha e cumprimentava o cara. Ele disse que tinha trocado com um amigo. A única coisa que eu consegui pensar na hora foi: Tomara que esse amigo seja piloto. Mais o que podia dar errado nesse vôo? Nada! Serviram o jantar, sim jantar mesmo. Tá acostumado com barra de ceral e amendoim, né? O piloto falou um pouco da vida dele, eu contei um pouco do meu “Work Experience” e aí do alto do silencio do vôo uma mulher gritou: EU QUERO DÁ! EU QUERO DÁ! EU QUERO DÁ!
Eu não sei de onde saiu tanta gente com uniforme, mais todo mundo pulou encima da mulher. O piloto disse que ia até lá ajudar e saiu corredor adentro. A mulher calou a boca, as luzes baixaram, eu entendi que era a hora de tudo mundo dormir. Devem ter dado algum calmante pra coitada, pra ela se manter calma até chegar a Londres, assim que ela chegasse em terra firme ela poderia cumprir seu intuito. Depois de umas dez horas de vôo eu estava com sede e fui até a cozinha do avião, aquele negócio atrás da cortina, cheguei lá pedi um copo de água, a comissária de bordo sorriu pra mim e disse que ia levar até a minha poltrona. Quando eu já estava me virando pra sair, olhei pro chão e vi, eu vi, ninguém me contou não. Eu vi a mulher que queria dar toda amarrada, ela não estava algemada não, ela estava amarrada igual a uma lingüiça. Amarrada com uma corda grossa. Aquilo nêgo deve ter nessas tribos indígenas por aí, sei lá... Osama Bin Laden deve ter aquele tipo de corda, agora eu nunca ia imaginar na vida, nem na morte, que dentro de um avião da British Airways ia ter aquele tipo de corda. O fato é: quem queria dar era a mulher e eu não ia perguntar nada, porque o que eu queria era terminar o vôo bem sentado na minha poltrona. A comissária trouxe minha água e eu nem bebi. Quando o avião tocou no solo eu já tava em pé pra sair fora dali. E aí o piloto avisou que todos tinham que permanecer sentados, que antes do desembarque ia ter um procedimento policial dentro do avião. Eis que para minha surpresa e dessa vez até o cara do meu lado que passou o tempo todo dormindo levantou a cabeça. Surgiu uma fila de policiais da Scotland Yard por cada corredor do avião. De repente surgi à lingüiça gigante no alto, quer dizer a mulher toda amarrada sendo levada pelos homens de preto. Ninguém dizia nada. E aí o cara do meu lado que passou o vôo todo mudo, do nada falou:
- ...E ela só queria dar.

terça-feira, 20 de julho de 2010

munDANOS 2

Peça de 1 Minuto: Dúvida.

Otávio – Merda! Logo agora esse avião some? Estava tudo sobre controle. Planejei tanto esta viagem e agora esse avião desaparece e ainda some no mesmo lugar!
(Pausa).
Telefone? Cadê o telefone? Essa Terapeuta nem pra me atender, ela disse que eu estava de alta; alguém já viu terapeuta dar alta a alguém? Quando voltar preciso arranjar outro médico.
Passaporte? Hum... não posso esquecer meu passaporte. Telefone; passaporte. Paris. Ah Paris! Estudei você nos mínimos detalhes, tenho o roteiro perfeito pra te ver, te sentir. Ah Miguel por que foi embora? Por que não esta aqui segurando minha mão?
(Pausa).
Que tristeza é esta homem! Você pode! Até a Terapeuta te deu alta e você ama Paris, planejou esta viagem com tanto amor e agora só porque deu errado com um avião você esta querendo desistir?!
(Pausa).
É deu errado com um avião. (Pausa) Ah ... se eu pudesse ir a Paris de carro, bem que poderia ter uma ponte, uma ponte daqui a Paris, uma linda ponte por cima do Atlântico. E Miguel, hein? Onde será que esta? Traidor! Planejou tudo, tudinho e faltando um mês... termina! Como assim termina? Já devia estar me traindo. Veio com aquela historinha de que sou indeciso! Indeciso! Não sou indeciso sempre sei o que quero!
(Pausa).
Ai que azia infeliz! Estou de Férias, tenho que fazer uma viagem de férias! Ah... esse avião ... que avião mais escroto!
(Pausa).
Dúvida nada tem a ver com indecisão, não sou indeciso, só estou em dúvida.
(Pausa).
Quer saber, essa dúvida só pode ser um sinal de Deus! É sim, isso não é medo não, é um sinal divino. O universo está tentando me dizer alguma coisa. Sabe de uma coisa? Eu vou é pra Mangaratiba! Vou ficar com a minha Vozinha que me entende, e que sempre me disse que um bicho que não bate as asas não pode voar!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Mundanos by SistersTxt


Por falta de amparo....

Este é um causo que se deu,
Lá pelas bandas do nordeste.
É a história de dois cabras
E Rosa uma flor do agreste.

Os desinfelizes chaleiravam,
A menina com todo tipo de agrado;
Davam de pulseira a “anér”,
Rosinha recebia até bom-bocado.

Levaram todo tipo de fruta,
Também do salgado ao melado.
E nada de Rosa se apetecê,
Por nenhum dos “apaixonado”.

Teve até luta armada na cidade.
O povaréu todo se juntou pra vê,
Quem ia merecer o amor da flor.
Que nem apareceu pra “torcê”.

O que ninguém tinha conhecimento,
É que a menina amor dos “brigão”.
Andava se encontrando as escondidas,
Com Bastião um notável covardão.

Que num era besta de se meter,
Na disputa com os dois “valentão”.
E assim lhe sobra mais tempo,
De conquistar Rosa e seu coração.

E foi com a brisa quente,
E a sombra do umbuzeiro,
Que Rosa jurou amor eterno.
De testemunha um cajueiro.

Montaram os amantes num jumento,
E foram se embora pra Juazeiro.
Lá eles haviam de conseguir sossego
E agora esta você aí perguntando:

E o que foi feito de Zé e Mané?
Esses aprenderam lição importante,
Preste atenção na madame ao invés,
Dê se inquietar com possível amante.

Dani Dias / 2010.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Mãe!

MÃE

Valéria Motta


Há quanto tempo aqui? Bom, na casa mesmo tem uns dez anos, mas neste banheiro uns dois. Sabe como é? Os filhos crescem e tomam conta do nosso espaço. (T) Hein? Se não é o contrário? Não, não. Esse contrário aí ainda vai demorar. Por que filho adolescente é assim mesmo. Ocupa espaço. Preenche com as vontades, entende? A psicóloga do colégio dizia que era tudo desejo... isso porque não era na casa dela. Acredita que nem visita recebia mais? O lavabo era irremediavelmente pros desejos dele. Hooooras lá dentro. Bom, pelo menos o garoto saía calminho, o marido não reclamava, a irmã não chorava e a empregada não pedia mais as contas. A vida da gente, hoje em dia, é assim. Melhor não perturbar... só a minha pessoa, claro. Foi por conta disto que dei um basta, tipo socorro mamãe surtou. Pois é... me dei o direito de bater a porta como eles fazem e me trancar aqui. Só que ninguém nunca imaginou que os minutos virariam horas que virariam dias... anos. Agora é a coitada da Justa é que sabe da casa. Só fico escutando: Justa cadê isso, cadê aquilo. Hã? A família? Reclamou no começo, mas depois se acostumou. Normal como dizia a minha menor. Saudade deles? Sinto... claro... só que descobri que amo dormir o tempo que meu corpo pede, compreende? Porque tava demais, vou ser sincera. Me sacrifiquei anos a fio para virar móveis e utensílios, não dá! Não gosto dessa invisibilidade! Sabe quem nem vontade tinha mais? Juro. Vai cansando sabe? Você no maior sono, a cama balança, aquele troço vai se chegando, você fica meio lá meio cá... já não tem aquela agilidade toda e pronto foi... Mas tudo bem, fazia parte. Pelo menos a cama balançava de vez em quando. Agora as crianças... meio decepção, entende? A mais nova vivia mais na casa das amigas do que aqui. Não sei que tanta graça ela via em dormir na casa da Lê, da Pri e da Rê. E a mãe aqui que agüentasse esta sinfonia! Mas passa... minha avó dizia que o bom da adolescência é que passa. Eu mesmo, nem lembro direito da minha. Lembra da sua? Pois é. Todo mundo pula essa parte. Hein? Se não me arrependo de morar aqui? Imagina! Tem barulhinho de água quando fico com vontade de chorar. Tem espelho quando penso que tenho vinte anos a menos, tem até banheira, olha só. O problema é que já estou naquela fase do entala, mas para relaxar os pés dá. Difícil relaxar... assim... depois de tanto tempo sem ter com quem conversar. Hã? Já vai? Mas, o que foi? Não respondi tudo certo? Ah, sei... tem mais gente pra pesquisar. Sei como é que é... toda mãe sabe como é que é...a gente nasceu para entender tudo. (T) Tudo bem. A próxima pesquisa é quando mesmo? Hum... é trienal, entendi. Hã? Se sou feliz? Claro... tenho a minha família, meus amigos..tudo bem que ando meio afastada, mas acho que... Oi? Estou sendo sincera sim! Imagina! A minha vida é quase perfeita. Só falta uma pitada de coragem, pra abrir a porta, mas isso a gente vai levando.

ASsimbiótica - Em: Who's the boss? The hand is.



Cômica relação antagônica entre criação e criadora a respeito das divergentes definições do que é ser mulher.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Guardar e não sofrer mais

Guardar e não sofrer mais


Nunca pensei que fosse tão simples. Abrir aquela carta, ler sua letra miúda... e não chorar uma lágrima sequer. Simplesmente guardar tudo no fundo da gaveta e não sofrer mais, João. Juro que não te esqueci... seu lugar é e será sempre insubstituível. Nós dois sabemos disso. Só que me pergunto. O que fizemos para este laço nunca se romper? Dez anos e ele nunca rompeu, né João? Nem esgarçou... nada. Te disse tantas verdades, exigi promessas de amor, palavras doces. E você, João, sempre cumpriu com cada um delas... Menos a principal, claro. Desistiu de mim antes de existir qualquer coisa mais concreta. Será que é por isso que continuamos nos amando? Sem nos importarmos com quem está do nosso lado? Que egoísmo nosso, hein João? Será isso traição? Será isso outra forma de amar? Não sei... mas , agora, me faz bem ler suas palavras cheias de desejo. Leio e apenas sorrio. Dizem que quando nos lembramos muito vivamente de algo é porque o cérebro gravou no seu HD esta informação. E a informação que tenho hoje para te dar é que não importa mais o que vou fazer da minha vida. Não importa com quem vou dormir, em qual cama vou deitar e nem que corpo vou decidir amar... o fato é que a pasta “João” está gravada em alguma sinapse qualquer. Por isso, guardarei sem dor qualquer carta que receber de você. E prometo sentir delicadamente cada alento que vier dela para ser feliz.