- Eu morei em Londres um tempo, e aí sempre que sobrava uma grana eu vinha passar o natal com a família. Era bom, eu gostava de vir passar o fim do ano aqui, Rio de Janeiro, solzão, festa em família... tudo muito animado. Em Londres eu ficava muito só. Então quando eu chegava aqui, meio que acontecia de tudo... e aí eu lembrava porque eu preferia continuar a uma distancia segura da minha família. Numa dessas voltas pra casa, Eu estava realmente ansioso pela volta, no Rio fazia um calor insuportável, eu já tava ficando sem dinheiro. As brigas típicas que acontecem todo fim de ano já tinham rolado. Então eu estava especialmente feliz em sair do calor, da família, das brigas e voltar para a tranqüilidade da minha vivência internacional. Pra variar a família toda foi se despedir de mim no aeroporto. Aquela coisa toda, aquela choradeira da minha mãe. E na minha cabeça eu só conseguia ouvir: Espera, depois que você ultrapassar aquela porta, vai ser só ar condicionado, frio e silêncio. Tudo que eu mais queria naquele momento era frio e silencio e aí tudo seria perfeito, depois que eu entrasse naquele avião da British Airways, tudo seria perfeito. Afinal o que poderia dar errado num voo da British Airways.
Ainda faltava cerca de trinta minutos para o embarque, mais eu falei que era melhor eu entrar logo, sabe como são os britânicos, né mãe? Fui o primeiro a entrar no avião. Avião limpo, comissários educados, piloto que inspira confiança. Alcancei minha confortável poltrona, que ficava no meio da fileira, sabe? Quando você vai escolher onde sentar e aí tem a poltrona “janela”, tem a poltrona “corredor” e tem a “confortável” poltrona do meio. Sentei ali comecei a repetir sem parar: ninguém senta aqui, ninguém senta aqui, ninguém senta aqui. E aí apareceu o primeiro intruso, tive que levantar pra ele sentar, classe econômica, né? Mais tudo bem, estava tudo bem, o ar condicionado estava geladinho. O avião começou a encher. Mesmo sem meu comando meu cérebro começou a repetir como se fosse um mantra: ninguém senta aqui, ninguém senta aqui, ninguém senta aqui. E aí as comissárias começaram a fazer as explicações de segurança, aí eu relaxei totalmente. Agora ninguém ia entrar mais, levantei o braço da poltrona, botei umas revistas na poltrona do lado que agora também era minha, me espalhei completamente. Feche os olhos e relaxei, já estava até sonhando, quando de dentro dos meus sonhos ouvi um: com licença. Abri os olhos e diante de mim estava o dono da poltrona corredor. Fiquei pensando: esse cara tava onde? saiu de onde? porque só veio sentar agora? Recolhi minhas coisas e achei melhor me apresentar, porque mesmo sendo um avião da British Airways, o vôo era de doze horas. Me apresentei pro cara da janela, não entendi muito bem o que ele disse, só sei que ele virou e fechou os olhos, acho que não queria conversar. Virei pro outro e me apresentei.
Ele falou o nome dele e disse que era o piloto do avião. Eu disse ahh... piloto de avião, ele não, não, piloto desse avião. Eu olhei pra ele e falei: Ah ta certo, então me leva lá na cabine. Não rolou de ir na cabine, mais a tripulação toda vinha e cumprimentava o cara. Ele disse que tinha trocado com um amigo. A única coisa que eu consegui pensar na hora foi: Tomara que esse amigo seja piloto. Mais o que podia dar errado nesse vôo? Nada! Serviram o jantar, sim jantar mesmo. Tá acostumado com barra de ceral e amendoim, né? O piloto falou um pouco da vida dele, eu contei um pouco do meu “Work Experience” e aí do alto do silencio do vôo uma mulher gritou: EU QUERO DÁ! EU QUERO DÁ! EU QUERO DÁ!
Eu não sei de onde saiu tanta gente com uniforme, mais todo mundo pulou encima da mulher. O piloto disse que ia até lá ajudar e saiu corredor adentro. A mulher calou a boca, as luzes baixaram, eu entendi que era a hora de tudo mundo dormir. Devem ter dado algum calmante pra coitada, pra ela se manter calma até chegar a Londres, assim que ela chegasse em terra firme ela poderia cumprir seu intuito. Depois de umas dez horas de vôo eu estava com sede e fui até a cozinha do avião, aquele negócio atrás da cortina, cheguei lá pedi um copo de água, a comissária de bordo sorriu pra mim e disse que ia levar até a minha poltrona. Quando eu já estava me virando pra sair, olhei pro chão e vi, eu vi, ninguém me contou não. Eu vi a mulher que queria dar toda amarrada, ela não estava algemada não, ela estava amarrada igual a uma lingüiça. Amarrada com uma corda grossa. Aquilo nêgo deve ter nessas tribos indígenas por aí, sei lá... Osama Bin Laden deve ter aquele tipo de corda, agora eu nunca ia imaginar na vida, nem na morte, que dentro de um avião da British Airways ia ter aquele tipo de corda. O fato é: quem queria dar era a mulher e eu não ia perguntar nada, porque o que eu queria era terminar o vôo bem sentado na minha poltrona. A comissária trouxe minha água e eu nem bebi. Quando o avião tocou no solo eu já tava em pé pra sair fora dali. E aí o piloto avisou que todos tinham que permanecer sentados, que antes do desembarque ia ter um procedimento policial dentro do avião. Eis que para minha surpresa e dessa vez até o cara do meu lado que passou o tempo todo dormindo levantou a cabeça. Surgiu uma fila de policiais da Scotland Yard por cada corredor do avião. De repente surgi à lingüiça gigante no alto, quer dizer a mulher toda amarrada sendo levada pelos homens de preto. Ninguém dizia nada. E aí o cara do meu lado que passou o vôo todo mudo, do nada falou:
- ...E ela só queria dar.
Ahhh..... texto inspirado em experiência real de Cristina Teixeira. Hahaha. Acreditem, isso realmente aconteceu!!!!
ResponderExcluirAlgumas coias que eu passo nessa vida davam um filme...Hahaha!
ResponderExcluirfilme de comédia!
ResponderExcluirPortal Meio Aéreo
Que desespero dessa mulher, hein? Coitada! A real realmente é uma comédia. Eu ri bastante.
ResponderExcluir