Chuva em poças
Por Valéria Motta
Chove nesta imensidão de águas turvas. Poças que enxovalham minha cabeça exausta. Exausta de pensar. E se não estivesse mais aqui? E se continuasse do ponto que parei... na vírgula daquele entreato? Sigo nesta pauta frágil com meus velhos rabiscos, cheios de letras amareladas, amores doídos, frases não ditas. Feneço fresta a fresta cada palavra lida e lembro daqueles desencontros tontos que sempre me disseram não venha. Mas fui em todos, com maxilar aguado de paixão, boca trêmula e o sexo em concha. Furei ondas, busquei o fundo de todas as intenções e fraquejei ao sentir a espinha serpentear como um bicho que se esconde rapidamente. Movimento brusco que nem a retina capta. Tão réptil... E neste átimo, apenas sensação de que algo escorreu por entre os dedos. Sangue que rompe, se esvai... num lamento agudo. E com os pés machucados pela agonia, sentei no meio fio da chuva e chorei com as mãos em prece cada silêncio teu. A cama dividida pelo seu dorso pesado, o descompasso da dúvida e a boca selando na macaneta da porta o frisson da despedida. Perna bamba, suór, respiração exata, corpos encaixados, ganidos e pequenas mortes. Assim segui nesta ciranda de trocados , onde qualquer gesto tinha valia e toda palavra tinha sua sonoridade. Bastava sussurrar e tudo se perdoava naquela paixão que insistia em habitar meu corpo.. Paixão de deliciosas armadilhas.
Mas hoje, deixo o barulho da água apenas pontuar meu chão e sigo mais oca de mim. O aquietamento do horizonte me orienta com sua plenitude... não temo as ondas e nem as choro mais. Somente carrego algas enfeixadas de afetos, dedos entrelaçados e um leve frescor nos lábios.
Por Valéria Motta
Chove nesta imensidão de águas turvas. Poças que enxovalham minha cabeça exausta. Exausta de pensar. E se não estivesse mais aqui? E se continuasse do ponto que parei... na vírgula daquele entreato? Sigo nesta pauta frágil com meus velhos rabiscos, cheios de letras amareladas, amores doídos, frases não ditas. Feneço fresta a fresta cada palavra lida e lembro daqueles desencontros tontos que sempre me disseram não venha. Mas fui em todos, com maxilar aguado de paixão, boca trêmula e o sexo em concha. Furei ondas, busquei o fundo de todas as intenções e fraquejei ao sentir a espinha serpentear como um bicho que se esconde rapidamente. Movimento brusco que nem a retina capta. Tão réptil... E neste átimo, apenas sensação de que algo escorreu por entre os dedos. Sangue que rompe, se esvai... num lamento agudo. E com os pés machucados pela agonia, sentei no meio fio da chuva e chorei com as mãos em prece cada silêncio teu. A cama dividida pelo seu dorso pesado, o descompasso da dúvida e a boca selando na macaneta da porta o frisson da despedida. Perna bamba, suór, respiração exata, corpos encaixados, ganidos e pequenas mortes. Assim segui nesta ciranda de trocados , onde qualquer gesto tinha valia e toda palavra tinha sua sonoridade. Bastava sussurrar e tudo se perdoava naquela paixão que insistia em habitar meu corpo.. Paixão de deliciosas armadilhas.
Mas hoje, deixo o barulho da água apenas pontuar meu chão e sigo mais oca de mim. O aquietamento do horizonte me orienta com sua plenitude... não temo as ondas e nem as choro mais. Somente carrego algas enfeixadas de afetos, dedos entrelaçados e um leve frescor nos lábios.
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