domingo, 23 de agosto de 2009

Construindo personagens 1: Sara Blota

Outra vez me vi imersa naquela ilusão. Novamente, pequenos gestos gentis, quase insignificante, tomaram uma dimensão tão absurda tirando a razão da minha compreensão. Como posso deixar arrebatar assim todas as minhas faculdades e ficar tão frágil e ridícula? Eu!? Uma Phd em Filosofia!
No auge dos meus 46 anos, dois casamentos, tenho ainda que passar por isso?
Meu corpo gordo, meu hálito doente, quer se aproximar, se insinuar. Será que, ao menos, ele me acha atraente? Não, não acha. Nem ele e, hoje em dia, ninguém. Eu me olho no espelho por obrigação, ou de que outra forma eu me arrumaria ou escovaria os dentes? Esse é o meu sacrifício diário! Se ainda eu acreditasse em Deus, pediria sua clemência para afastar de mim esse castigo.
Confesso que decidi ser mais vaidosa, cuidar mais de minha aparência. Isso faz dois dias. Mas já marquei o dermatologista! Quem sabe ele prescreve algum elixir que cuide de rugas e da pele ressecada sem ser obrigada a me submeter a horas de tratamentos enganosos de rejuvenescimento?
Prometi a mim mesma também que iria frequentar toda a semana o salão de beleza (paciência que me ajude!) e me resignar a ler com olhos complacentes as inúmeras revistas de reportagens forçosamente simpáticas com detalhes superficiais sobre a vida de celebridades que mal conheço.
Essas decisões devem ser as consequências de eu me apaixonar por um rapaz mais novo...
Talvez a monotonia do meu casamento, a falta de desafios do meu trabalho estejam abrindo frestas para a carência de incertezas e inseguranças, para uma atração misteriosa, intrigante. Voltei a escrever um diário, não estão vendo? Que coisa mais adolescente, mais idiota, e mais íntima e salvadora neste meu momento.
Relendo o que escrevo, espero retornar a sanidade para perceber que um simples sorriso, ou palavras educadas não traduzem que alguém está interessado em você. Preciso mais do que isso. Mas não posso, não posso embarcar nesse rio e até, quem sabe, desaguar nesse mar. Tenho um medo enorme de me afogar.

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