quinta-feira, 20 de agosto de 2009

reunião de porteiros - exercício

OS INCOMPREENDIDOS

por Valéria Motta

JURANDIR — O negócio é fazer que nem qui si faz nos filme. Tem qui boicoitá.
SEU ZÉ — Éh... boicoitá sim.
SELENES — Ocê qué dizer que si as madame impricarem com meu jeito de falá, vou tê que virar a cara pra elas, é?
SEU ZÉ — Tem que virá sim. Num tem, Jurandir?
SELENES — Mas elas já viram quando o pundinho queima. Dona Margô intão...E ói que faço tudo na continha certa. Mas num vinga, num sei porquê.
CREUZA — É porque tu é lesa, Selenes.
JURANDIR — ô minha hente, num vamos desviá do assunto. Nóis tem que se concentrá no boicoti.
SELENES — Explica isso. Seu Jurandir.
JURANDIR — É simples. Elas num veve chamando a hente pra fazê de um tudo? Intão? Vamos mostrar que inquanto num tratá nóis bem, nóis num fala com elas. Pronto.
SELENES — Sabe qui até que é bom? Num tê precisão de falar com aquela posuda da dona Margô? Taí gostei.
CREUZA — Mas é uma idéia muito da besta mêmo. Num falar com os patrão da gente só porque eles num intendem o que nóis diz.
SEU ZÉ — Intendi não. Éeeeuuu mesmo vivo tendo que repeti as coisa toda hora.
CREUZA — Muito sol na moleira dá nisso Zé.
SELENES — Num fala assim com o pobre. O coitado sofre lá na portaria. As madame ri dele que só.
CREUZA — Também....
SELENES — E ri d´ôce também que já vi, tá?
CREUZA — Qual foi a cabra da peste que fez isso pelas minha costa?
JURANDIR — Calma, hente. Assim nóis num chega a lugar nenhum. Por isso que tô falando que o negócio é dar o troco neles. Não intendei nóis, nóis também num intendi eles.
CREUZA — Por mim descia logo a pexera e cortava a língua deles toda. Melhor do que essa bestagem de boicoti.
SELENES — Creuza qué pára de garrá implicrância com seu Jurandir! Ele tá cobertinho de razão.
CREUZA — Sei bem onde vai dar essa razão. Vai dar é na rua!
DOCINHO — Mas que pataquada é essa aqui?
JURANDIR — (P/S) Ai, meu sinhô do Bonfim...
DOCINHO — Num vai saindo assim na surdina não, peludão.
SEU ZÉ — Peludão?
SELENES — Pata o quê?
CREUZA — Que raio de coiso é essa?
DOCINHO — Fala, Peludão! Fala!
JURANDIR — Docinho... veja bem. Aqui num é hora nem lugar...
DOCINHO — Num é isso que tu diz na hora do bem bom, Juranda... e além do mais, minha fase festa no arraiá, já foi! Já foi! Manda esse povo pular fogueira em outro lugar, manda!
SELENES — Meu Jesus cristinho!Credo em cruz três vez!
SEU ZÉ — Ela é a mulher de tromba do seu Jurandir?!
DOCINHO — Sou sim, mona! Por que ?
CREUZA — Agora que lascou de vez.

2 comentários:

  1. Que mundo maravilhoso. O que um bom trabalho para este post. Muito rico e construtivo ao mesmo tempo. Eu quero dizer um polegar para cima para o criador para manter este site simples. Parabéns, finalmente um site de nível superior. Tenha um bom dia!

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  2. Ótimo artigo, como você se sente isso vai ser afetado no futuro? Estou contente por me deparei com este site!

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