segunda-feira, 24 de agosto de 2009

pensamentos

pensamentos

por Valéria Motta

Meu papéis viraram ninhos, flocos brancos babados de coriza e cansaço. É tarde e não me convenço disso... Mas insito, com coluna empilhada, bunda enformada e olho vermelho. Sinto o limite do físico e odeio isso. O sono desregula, corpo desenforma... incrível como é chato. Incrível como é rápido. De uma hora para a outra, ele dá seu aviso prévio, uma revolução ao contrário. Uma turbulência em descompasso. E não adianta reclamar, porque ninguém dá ouvidos. Segue maturando sei lá o quê ( como se fosse possível ainda, maturar...) Parece rir , ao me ver brigando com minhas dobras , reclamando do barulho dos meus ossos, sinfonia de articulações que sempre acabam num nó cego. E a vista embaralha porque não lhe resta outra alternativa. E assim sigo com uma lista de paliativos. Viver agora é assim, com paliativos. E ainda tem o desconforto das descobertas sutis. Os dedos que sempre descobrem um novo pelo. Daqueles duros e imperativos, que te obrigam a apertar o olho e pegar em armas. Sim, envelhecer é ter pelos indesejáveis... pentelhos brancos, flancos generosos e desejos aguados. O fogo vai para a oralidade, quando o corpo pede descanso. E nisso não vejo vantagem. Sempre fui dos calores, dos espelhos suados. Mas a busca do encaixe cansa, melhor facilitar e guardar energia. Sem grandes extravagâncias. Nem muito sal, nem muito doce, a experiência pede temperança. Não aguento, juro. Esse amornar contemplativo, essa calma na boca nunca me serviu. Quero serpente sibilando e traduzindo no corpo, minhas loucuras vividas. Quero compasso marcado e não acordes dissonantes. Não quero nada que me faça pensar...

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