quinta-feira, 20 de agosto de 2009

NOVO GESTO DE AMOR, TEXTO FINAL

NOVO Gesto de amor
por Valéria Motta
O TEXTO DELA NA VOZ DELE

Bastou um gesto dela para tudo incendiar. A noite virada em copos, risco na pia, cama suada, riso frouxo. Será que vai ser para valer? Só temos madrugada, aurora e o desejo ainda vibrando como corda. Tudo tão tenso, leviano... adolescente neste meu quarto que cheira a tantos prantos. Estranho como tudo é uma questão de ângulo. Daqui vejo seus peitos inchados e meu sexo ardendo. Sorrio e te como mais. Muitas vezes... com o esforço do corpo pedindo: não me abandona, mas segura minha mão e aperta mais a minha bunda. Gosto de sentir que enfio forte. Seja minha com suas unhas feitas. Sei que não posso te reter, mas preciso do escuro dos teus olhos, esses dedos que desenham minha espinha, me faz levitar. Não quero me atirar pela janela sozinho. E se você resolver me dar a mão? Rasgar meu pulso e se misturar com a minha loucura. O que faço? Sinto que seu corpo saiu anestesiado e feliz. Um ronco de felicidade ainda ressoa pelas paredes. Pranto de prazer que inundou meus olhos depois que os seus escaparam pelo meio fio. Fazia tempo que não ria desse jeito, assim... jogado no leito. Você me devorou, se divertiu como uma menina. Tão sapeca com seus bigodes instantâneos que subiam e desciam como pestanas secretas a dizer: mergulho. E foi tão intenso que posso sentir o leite escorrendo pelas pernas. Como vou te encontrar agora? Por que fujo sempre, com este misto de vergonha e liberdade? Não quero te perder, mas o rumo do meu prazer sempre foi torto. Armadilha do destino? Talvez. Só queria que hoje, a noite me fosse generosa como uma puta velha que conduz meus sapatos para àquele mesmo beco cheio de escadarias risonhas. E eu subiria calmamente os degraus, puxaria sua mão para dentro das minhas calças, deixaria a saliva escorrer pelos tacos, a porta entreabrir, os pêlos eriçarem e ser seu e somente seu mais uma vez.








GESTO DE AMOR
O TEXTO DELE NA VOZ DELA

Saio com roupa de ontem, cigarro amassado e olheiras cheias de sexo. Respiro uma lufada de ar que vem da janela deste ônibus. Sim, meu rosto está enrubescido, posso sentir o calor... calor que só sentira até meus dezessete anos. E vejo o trocador dando aquele sorrisinho indecente enquanto conta notas por entre os dedos. A vadiagem foi boa sim. Não nego o sorriso cheio de gozo e a preguiça do corpo. Meu divertimento não teve fim. Terá? Ainda é cedo para saber. Parti daquele quarto úmido como sempre parto, sem olhar para trás. Só sentindo no vão da nuca, seu ronco pesado, sua dor e seu sexo encolhido. Meu peito ainda guarda o mormaço da sua boca. Acho que queria me dizer alguma coisa, nem sei se respondi. No fundo sou tímida, mas confesso que na hora não pensei em nada. Se ia aparecer gente naquele quarto, se ele tinha namorada – todos tem em algum momento da madrugada. Nada me importava. Só o tesão e este tinha endereço certo. Beco da Glória, 35, terceiro andar. Agora, meu quadril pressiona o chão com suas dúvidas. Será que vai voltar naquele bar? Daria tudo para sentir aquele cheiro de barba azulada. Meio acre, meio mel. Lixa suave que eriçou meus poros deixando ranhuras cor da noite. Ainda posso senti-la bem aqui na clavícula. Tão delicado. E abrigo na retina, seu sexo cheio de veias saltadas a me ser oferecido no mais absoluto silêncio. Devorei ávida com a sede da flor mais pura. E vi, extasiada, cabeça caindo para trás, boca entreaberta, olhos cerrados, gozo espesso e unhas vermelho sangue cravadas no seu dorso. Defini território e chupei sua carne com a intimidade das manhãs. Será amor de verdade? Não sei, mas quero ainda o desejo riscando o chão e incendiando pernas. Só assim fico rendida para sempre. Agora, só resta achar seu rastro e segui-lo de novo.

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