quinta-feira, 20 de agosto de 2009

A parede - exercício por Valeria Motta

EXERCÍCIO - A PAREDE
Valeria Motta

P. — Tem sempre gente aqui. E lugares que adoraria conhecer. Mas aqueles olhos me encaram incessantemente, como se quisessem me impregnar com seus sonhos e esperanças. Nossa como gostaria de poder descansar um pouco, apagar a luz, respirar em silêncio. Mas esses desejos que vagueiam em cores furtivas não me deixam em paz. Nunca. Dia após dia, as mesmas conversas cochichadas e as imagens incessantes desfilando em cima de mim. Confesso que me sinto uma parva. Por que só me oferecem a retina de vocês? E não o tato quente, o calor da pele. Um toque me faria tão feliz. Mas me sinto tão vazia, tão nua,mesmo quando me vestem com o sorriso e a dor do mundo. Quem dera pudesse pegar esta bicicleta aqui e rumar por qualquer infinito. Entrar em algum mundo que me dê movimento. Qualquer um. Mas não, minha condição é tão plana e imensa. Como uma folha de papel que só desenha no céu dos outros. Pois o meu, é lugar nenhum, é branco que envolve e ninguém percebe.

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